Postagens

Mostrando postagens de março, 2023

ainda raízes

Imagem
  Depois de tanto falar de raízes, desterros, transplantes, o tema ficou aparecendo e reaparecendo - ou eu que fui prestando atenção ou lembrando, possivelmente uma combinação entre essas coisas todas. Uma das coisas de que me lembrei foi do texto do Georges Didi-Huberman sobre o Glauber Rocha , publicado pela n-1 naquela série Pandemia Crítica. Nele, Didi-Huberman conta sobre sua experiência de caminhar no Parque Lage, no Rio de Janeiro e sobre "o mundo radicular da floresta" como imagem de pensamento  que lhe permite considerar tanto sobre os sentidos da radicalidade quanto da genealogia. Diz ele:  "Não vou às raízes (do passado), portanto; são as raízes que surgem sob os meus passos para modificar   radicalmente  o meu caminho (para o futuro)". Contra o modelo genealógico da origem una ( a raiz), ligada a um solo e progressivamente orientada para cima (e como não pensar nas ilustrações das teorias eugenistas?!), Didi-Huberman lembra que as raízes são plurais: se

árvores, pássaros, amores

Imagem
Engraçado que embora as paisagens sejam novas, elas evocam passados. A primeira vez que caminhei em torno desse lago para ir trabalhar na Biblioteca Nacional da Austrália estava nublado e eu tinha que seguir as instruções do googlemaps e não sabia exatamente a distância ou o tempo, se estava perto ou longe. Mesmo assim, quando passei por essa árvore, parei para fotografar e mandar pra amiga. É que essas raízes entre o céu e o mar me instalaram em outros espaços, em tempos de encontro, e a saudade ficou mais apertada. Mas também me dei conta de que desde que chegamos - e primeiro ficamos em um lugar mais distante do centro, cortado por um labirinto (pra gente, ao menos no início!) de bushlands - tenho pensado nas raízes aéreas. É verão, mas algumas árvores sabem a outono: já perderam folhas, já mudaram de cor, já parecem apenas contornos contra o céu azul. Aqui é seco, bem seco. Galhos e raízes se misturam nos gestos de buscar o ar. De modo que a sensação de outono pode ser só a expecta

(re)começar?

Imagem
Coisa mais anos 2000 ter blog, escrever em blog. Ao longo do tempo, foram tantos e me trouxeram tanta gente querida, de longe e de perto. Gente que passou, gente que foi ficando, ficando e ficou - mesmo às vezes tenho ido para outros lugares. Quando estava tudo decidido que viríamos, eu e R., para Canberra, para estes seis meses de trabalho, cogitei retomar um blog. O Noturnos Imperfeitos possivelmente, já que era nele que eu mais escrevia coisas minhas, nas urgências de elaborar o mundo. Mas relendo textos antigos, vendo as postagens dos momentos finais, achei que não era ali. Aí fui de vez em quando mandando mensagens para amigas e amigos, às vezes por email, outras no whatsapp. E percebendo que, apesar de todo o meu gosto pelos podcasts de zap #soudessas #tenhonemvergonhamais, mesmo ali a vontade era de escrever. Como se fosse uma fúria missivista, ainda que sem tinta e papel. Como se fosse bom inventar outros modos de estar perto, mesmo que (muito) longe. Como se o áudio instantân