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línguas, linguagens, silêncios

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as notas para esta postagem estavam salvas desde há muito; desde quando eu ainda estava na austrália, vivendo provisoriamente entre línguas. (digo entre línguas e penso na Sylvia Molloy, claro:  Si bien la suerte del que se va a vivir afuera no es tan precaria como la del intérprete ambos comparten la misma inestabilidad y el mismo riesgo de que, en algún plano, no se los entienda. ¿Cómo se escribe desde el lugar otro y qué ocurre con la escena de escritura cuando se la desplaza? ¿Cómo se tejen las sutiles relaciones entre autor, lengua, escritura y nación? ¿La extranjería de un texto comienza en la distancia geográfica, en el uso de otra lengua, o en el sesgo de la mirada crítica? Y, por último, ¿qué comunidad de lectores y qué contexto de lectura convoca el texto del escritor desterrado? "Desde lejos: la escritura a la intemperie". Cadernos del recienvenido , n.1, São Paulo: Humanitas, 1996). já não me lembro bem, mas acho que comecei a tomá-las logo depois de ter feito o

irmã, despedida, florescer

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a minha terça-feira teve a leitura de um texto do James E. Young, sobre as etapas da memorialização após acontecimentos traumáticos e violentos. ele contava de sua experiência como jurado no concurso que selecionou o projeto para o memorial no Marco Zero do 11 de setembro estadunidense. falava da importância de que memoriais e monumentos ligados a catástrofes memorializem não apenas o evento, mas a vida dos que foram atingidos, contribuindo para que a memória se enraíze na vida, para que a honra aos mortos encontre as necessidades dos vivos. em algum momento ele cita seu próprio terapeuta: "Em qualquer nova perda, nos lembramos de cada uma das outras perdas que tivemos" (2016, p.46). a minha terça-feira teve ainda o começo da leitura do livro de Nicole Loraux, sobre o luto das mães nas tragédias gregas - e toda a discussão sobre lamento, justiça e política a partir disso. enquanto eu dormia, na terça-feira da minha família, minha irmã fazia sua passagem repentina para outro p

brotar, insistir, durar

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Nell, "The woman tree" (fotografia na National Portrait Gallery, 2/4/2023)  a escultura estava em uma sala separada, diferentemente iluminada, o que certamente contribuiu para seu impacto. pra quem vinha falando tanto de árvores e raízes, não foi pouco: a mistura entre corpo humano e o corpo arborescente, entre o corpo feminino e os galhos-quase-asas, além de tudo pontuada por esses fantasmas (é o nome que, na descrição da obra, a artista dá a essa cerâmica transparente e alaranjada que pende dos galhos) que escorrem como frutos jamais maduros, perenes. a figura estática, concentrada, avessa a estações ou a nosso trânsito em volta dela. é um auto-retrato. e me fez lembrar do livro da Han Kang, A vegetariana . agora que paro para pensar nisso, há algumas árvores que encontro por aqui que sempre me evocam as páginas finais do livro, tão perturbadoras quanto fortes, ao menos do modo como eu as imagino. (sem ter trazido meu exemplar comigo, busco informações sobre o livro e sou l

pele, cicatrizes

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(escrito neste fuso estranho, em que é ao mesmo tempo 31 de março e 1 de abril. 59 anos do golpe que inaugurou os 21 anos de ditadura civil-militar brasileira). na quinta-feira, fui a uma atividade de um dos grupos de pesquisa ao qual estou ligada; o tema era a escrita de ficção e não-ficção no Antropoceno, sob a perspectiva de alguém que escreve ficção e não-ficção. foi bastante interessante a discussão que ela fez, em especial sobre o lugar que o Ambiente ou o Lugar passam a ocupar nessa escrita - ou seja, o ponto dela não era o Antropoceno como tema (embora certamente como algo que deveria se desdobrar em uma inflexão sobre a literatura), mas as consequências dessa experiência para a escrita. (fiquei pensando no texto do Guilherme Bianchi, "A vida política da paisagem" . e, por coincidência, tinha lido as teses do Dipesh Chakrabarty sobre o Clima da História na noite anterior, também uma reflexão sobre os efeitos dessa experiência do Antropoceno para esse outro modo de nos

ainda raízes

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  Depois de tanto falar de raízes, desterros, transplantes, o tema ficou aparecendo e reaparecendo - ou eu que fui prestando atenção ou lembrando, possivelmente uma combinação entre essas coisas todas. Uma das coisas de que me lembrei foi do texto do Georges Didi-Huberman sobre o Glauber Rocha , publicado pela n-1 naquela série Pandemia Crítica. Nele, Didi-Huberman conta sobre sua experiência de caminhar no Parque Lage, no Rio de Janeiro e sobre "o mundo radicular da floresta" como imagem de pensamento  que lhe permite considerar tanto sobre os sentidos da radicalidade quanto da genealogia. Diz ele:  "Não vou às raízes (do passado), portanto; são as raízes que surgem sob os meus passos para modificar   radicalmente  o meu caminho (para o futuro)". Contra o modelo genealógico da origem una ( a raiz), ligada a um solo e progressivamente orientada para cima (e como não pensar nas ilustrações das teorias eugenistas?!), Didi-Huberman lembra que as raízes são plurais: se

árvores, pássaros, amores

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Engraçado que embora as paisagens sejam novas, elas evocam passados. A primeira vez que caminhei em torno desse lago para ir trabalhar na Biblioteca Nacional da Austrália estava nublado e eu tinha que seguir as instruções do googlemaps e não sabia exatamente a distância ou o tempo, se estava perto ou longe. Mesmo assim, quando passei por essa árvore, parei para fotografar e mandar pra amiga. É que essas raízes entre o céu e o mar me instalaram em outros espaços, em tempos de encontro, e a saudade ficou mais apertada. Mas também me dei conta de que desde que chegamos - e primeiro ficamos em um lugar mais distante do centro, cortado por um labirinto (pra gente, ao menos no início!) de bushlands - tenho pensado nas raízes aéreas. É verão, mas algumas árvores sabem a outono: já perderam folhas, já mudaram de cor, já parecem apenas contornos contra o céu azul. Aqui é seco, bem seco. Galhos e raízes se misturam nos gestos de buscar o ar. De modo que a sensação de outono pode ser só a expecta

(re)começar?

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Coisa mais anos 2000 ter blog, escrever em blog. Ao longo do tempo, foram tantos e me trouxeram tanta gente querida, de longe e de perto. Gente que passou, gente que foi ficando, ficando e ficou - mesmo às vezes tenho ido para outros lugares. Quando estava tudo decidido que viríamos, eu e R., para Canberra, para estes seis meses de trabalho, cogitei retomar um blog. O Noturnos Imperfeitos possivelmente, já que era nele que eu mais escrevia coisas minhas, nas urgências de elaborar o mundo. Mas relendo textos antigos, vendo as postagens dos momentos finais, achei que não era ali. Aí fui de vez em quando mandando mensagens para amigas e amigos, às vezes por email, outras no whatsapp. E percebendo que, apesar de todo o meu gosto pelos podcasts de zap #soudessas #tenhonemvergonhamais, mesmo ali a vontade era de escrever. Como se fosse uma fúria missivista, ainda que sem tinta e papel. Como se fosse bom inventar outros modos de estar perto, mesmo que (muito) longe. Como se o áudio instantân